Participei de alguns projetos em São Paulo que envolviam adaptações arquitetônicas para melhorar a acessibilidade a edificações. Na maioria deles sugiram grandes discussões a respeito de qual deve ser a maneira adequada para se referir ao público alvo destas reformas.
Nestes casos a palavra “deficiente”, ainda muito corrente no Brasil, foi sempre descartada, por ser considerada discriminatória e incompleta, já que entende-se que ela não pode ser atribuída a muitos usuários, e um projeto de acessibilidade tem que prever condições de mobilidade universal a todos os cidadãos, envolvendo por exemplo cegos, grávidas, idosos e cadeirantes.
Na maioria das vezes a denominação aceita foi o termo “pessoas com necessidades especiais”, que além de ser uma expressão mais abrangente, também está livre de possíveis interpretações preconceituosas geradas por outras nomenclaturas como aleijado, defeituoso, inválido e mesmo, deficiente.
Logo que comecei a trabalhar como arquiteta em Buenos Aires me deparei com um projeto onde estava previsto um banheiro para discapacitados. Na época achei que fosse um erro causado por algum projetista desinformado e tive esperanças de que alguém corrigisse o grave engano a tempo, mas não foi o que aconteceu.
A partir de então comecei a ver essa expressão por todos os lados, e percebi que é uma denominação corrente na América do Sul.
Ainda hoje sempre que vejo sinalização de acessibilidade universal por aqui me assusto e sinto uma carga de segregação mais forte que a gerada por qualquer outra expressão que tenha ouvido em português. Mas percebi que eu não sou a única pessoa incomodada com a palavra.
Em minha última passagem pelo aeroporto presenciei um mini escândalo de uma brasileira que passava pela fila preferencial e gritava em portunhol: “Usted está jogando en mi cara que yo soy una inválida?”.
Ninguém entendeu nada, mas tenho certeza que a reação desta moça foi por não ter se identificado com a palavra “discapacitada”.
Etiquetas:argentino, arquitetura, Buenos Aires, cultura, opinião